Português 

O Regresso...>>

30-08-2007

A mota chegou a Madrid. A alfândega espanhola não colocou grandes objecções à reimportação, num processo muito facilitado pela Eurolis, quer em termos burocráticos, quer de acompanhamento. Enviar a mota para Madrid teve razões logísticas e pessoais. Por um lado permitiu uma simplificação de ordem técnica da reimportação sem pagamento de direitos aduaneiros - foi de Espanha que a mota foi exportada à ida (Barcelona). Uma justificação sem dúvida contornável, mais papel menos papel. É também verdade que há mais aviões para Madrid que para Lisboa - esta desculpa é ainda mais esfarrapada...

A verdadeira razão, pessoal, foi o medo do choque. Medo do tele-transporte aéreo, da chegada de supetão ao aeroporto, sem preparação, largado sem pára-quedas num mundo a que se passa a ter que obedecer em minutos, aos seus detalhes, sem que nada nos lembre onde estávamos pouco antes. Comecei a imaginar a aterragem do avião, a minha passada mecânica por uma das mangas até ao edifício principal. A enervante espera de olhos postos nas ripas de borracha que vão penteando as malas, com a esperança que dessa vez a minha não fosse das últimas. Depois, o reencontro atabalhoado e feliz com quem me esperasse, mas rapidamente engolido pelo parque de estacionamento cheio de cimento frio, as notas - outra vez euros -, para pagar à maquineta alaranjada de sempre, a barreira do parque a abrir para as mesmas estradas periféricas e sem interesse, a minha letargia mais que certa, pasmado na janela do carro, hipnotizado pelas luzes rápidas, o reconhecimento brusco de uma realidade tão entranhada e ainda assim alheia. Sei bem, de outras vezes, como é sentir-me assim perdido, a não pertencer ali. É violento e imaginei essa rispidez muito amplificada pelo tempo desta viagem, bem diferente. Deu-me medo.

Foi por isso que mandei a mota para Madrid. E ainda bem. Tenho mais uma pequena diversão à espera e vai dar-me um gozo tremendo chegar a casa por estrada, na minha mota, autónomo, ainda ligado ao meu nomadismo, convencido de que se me apetecesse acampava no pátio, abria as malas e cozinhava um esparguete, e no fim convidava a família a vir tomar chá comigo, que trouxessem as chávenas, que só tenho uma, açúcar há aqui, não é preciso. Vamos é ver as estrelas, mas com atenção, que são quase nenhumas aqui na cidade. Se as vissem na Patagónia, aquilo é que era...

Fico uns dias mais aqui por Nova Iorque. Chego a Madrid na próxima 4ª feira, mas só sigo para Portugal no Sábado, dia 8. Aponto cedo a Lisboa e páro a almoçar qualquer coisa logo a seguir à fronteira, em Elvas, a celebrar terra e comida lusitana. Depois, alguém sugeriu como destino simbólico o Padrão dos Descobrimentos: há que tirar uma fotografia com a mota na Rosa dos Ventos, apontada às Américas. Gostei da ideia, assim será!  Depois, jantarada! O Porto fica reservado para o dia seguinte, Domingo, talvez numa chegada mais sossegada.

Volto com mais detalhes do programa, não vá alguém andar ao passeio por essas bandas.
35.000 km
15 countries
7 months (Jan-Ago 07)
30 travel chronicles