Agora é que foi mesmo. Terminou de vez. Mota na garagem, uma bela noite de descanso na minha saudosa cama, nem um frincha de luz a importunar-me. Voltei ao normal, não tenho que imaginar onde vou dormir amanhã. Qual é a sensação de estar outra vez em casa? Ainda não sei. Mantenho-me em navegação. Parece-me tudo bastante igual. Seguramente não sinto que parti há tanto tempo.
A minha chegada foi um turbilhão de emoções. Paisagens e bairros conhecidos, amigos, cansaço, convívio, saudades, surpresas, abraços fortes e nós de garganta muito apertados, daqueles que nos roubam as palavras, umas quantas lágrimas mal controladas, lá teve que ser, mas das saudáveis!...
Fiquei mesmo contente por ter companhia desde Madrid. Aproveitei a estadia improvisada pelo Daniel Henrique e logo na 6ª feira ao fim da tarde chegaram o Rui Baltazar, o Tozé Costa e o Pedro Colaço. O Carlos Martins e a Catarina Varão juntaram-se-nos na Porta del Sol no Sábado de manhã e foram kms deliciosos até Elvas. Lá estavam no aqueduto o Pedro Mints, o Tomaz Pessanha, o André Espenica e o Eduardo Costa. Almoçámos comida portuguesa e partimos para o Padrão dos Descobrimentos, todos com a t-shirt BuenaYork!
Fomos pontualíssimos, às 18h00 já me estavam a mandar subir para a Rosa dos Ventos. Paro a moto, encontro um abraço difícil na inesperada “mãezinha” que não era suposto estar presente, logo veio o segurança dizer que a moto ali é que não podia ser, alguém negoceia um minuto, vai uma foto às pressas, alguns ainda estão a estacionar, paciência, fica assim mesmo, desculpe mas tem mesmo que sair, fez-se a vontade ao senhor. Depois dos abraços, dos parabéns, da espera pelos atrasados, veio a passeata por Lisboa até à jantarada. Tantas motos!!! Tantos motards! Tantos viajantes com histórias para contar! É um privilégio pertencer ao grupo.
Seguiu-se a insuperável hospitalidade do Carlos para instalar os homens do Norte, uma curta noite de descanso e siga para o Porto, carago!!! Juntámos mais uns quantos na saída da A1 e fomos todos almoçar à casa de família, Ria de Aveiro, um grande grupo à espera. Muitos abraços sentidos, mas que saudades tinha eu desta gente! Que dia feliz, e que difícil de contar sem parecer aborrecido. Que valor tiveram estas caras com saudades, os detalhes familiares, as boas-vindas com alma!
A seguir partimos em caravana, as motos, os carros, para a foto final na Serra do Pilar, a magia da paisagem desta cidade encantadora, que é a minha, e que em cada regresso mais minha fica… Uma pequena reportagem para o Primeiro de Janeiro, aproveita-se o fotógrafo para a foto de grupo, que assim não fica ninguém de fora, e está feito. Acabou, em beleza. Agora a francezinha para os mais resistentes, a rematar o dia.
O cansaço estampado pediu cama e a mota pareceu maior ao entrar na garagem, ao lado do carro poeirento, que saudades! Tudo na mesma. O elevador, a porta, os ruídos conhecidos, tão conhecidos que parecem apenas dias desde a última vez. E foram: 231 dias! 40.600 kms, um pouco mais que o perímetro da terra, uma catrapada de países e um não acabar de episódios. Por cá, tudo parece igual, talvez um pouco mais confortável que o costume. Eu não me sinto outro, apenas com as ideias mais claras e a confirmação de que o mundo é grande, ainda que às vezes não pareça. Tenho a certeza de que fiz bem em partir e estou motivado para enfrentar as consequências de ter saltado para este maravilhoso abismo. Foi muito bom. Já valeu a pena ter vivido!
Despeço-me, esperando ter podido inspirar os mais audazes a cometer loucuras sensatas e sentir-se vivos. Até breve!
P.S: Quem tiver fotos da chegada para partilhar, sugiro que coloque num comentário o endereço para o seu best-of!